quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Quase nove anos depois

Quase nove anos distante, dispersa, ausente. Presente no mundo, de olhos abertos, observando,vivendo e me perguntando: Como há tantos com os olhos abertos que não podem ver o mundo ao seu redor. É como estar em uma sala de vidro à prova de som, gritando alertas e avisos a plenos pulmões, enquanto as pessoas passam calmamente pela rua sem sequer olhar.

Nosso planeta está morrendo; o ódio nos rodeia. E no momento que mais precisamos nos unir, estamos mais divididos do que nunca.

Porque nos momentos de desespero precisamos catalogar as coisas; segregá-las?
O ser humano sente dor,sente fome,frio. Mas é humano direito?  Tem religião? Qual o gênero? Qual a cor? De onde veio?

O que nos faz menos humanos não são as respostas, são as perguntas. Se essas são as perguntas feitas para que se possa prover ajuda,comida,calor,afeto, então os que não são humanos somos nós.

Cada vez menos amor por nós mesmos e pelo mundo à nossa volta. Cada vez menos preocupação com a fauna, com a flora, com o próximo.

Lutamos por um presente sem pensar em construir um futuro. Nossa arrogância nos afasta cada vez mais da direção que deveríamos seguir. Se nada for preservado, nada sobrará além de recordações amargas.

Ainda há tempo, embora seja pouco, de restaurar o que tem sido destruído. Seremos capazes de enxergar antes que não haja nada mais para se ver ou morreremos cegos e amargurados?

sábado, 18 de setembro de 2010

Desabafo

Sabe, eu não entendo as pessoas.

Porque o ser humano sente essa necessidade quase que irreprimivel de impressionar aos outros pra provar seu valor?acho isso tão irracional. porque ao inves de se exibir como um animal você não consegue ser quem/ o que você é e deixar que a pessoa se impressione com sua simplicidade e personalidade as pessoas sentem que precisam ser mais do que elas são para poderem merecer estar junto a alguém, seja como amigo ou algo mais?

domingo, 15 de agosto de 2010

Zach e Caleb

*~ Zach e Caleb ~*

     Ainda era noite quando acordei. Lá estava ele, sentado, imóvel.  Estava me encarando sutilmente. Sentia-me invadido por aqueles olhos. Sentia-me o mais diáfano dos objetos, frágil, vulnerável. Sim, vulnerável, acima de tudo, vulnerável. Ele percebeu isso, esse sentimento, essa sensação. Mas, mesmo assim, permaneceu no mesmo lugar, estático. Uma criatura devassa, vil, fria, cruel, mas, calma e acima de tudo, angelicamente bela. 
     Eu o admirava, mas o odiava também, por ser tão perfeitamente jovem imutável. Odiava-o por saber que ele seria eternamente assim, um elegante rapaz, cuja idade me era impossível definir. Eu era ainda mais jovem em aparência do que ele. No auge de meus dezesseis anos, com os hormônios à flor da pele e um espetáculo de sentimentos e sensações extasiantes recém descobertas pelo meu novo amante, meu anjo corrompido, despertavam em mim um desejo incontrolável, uma dependência carnal incomum, eu achava-a esplêndida.
     Durante semanas ele me visitava sempre ao anoitecer. Beijava-me com uma suavidade sobre humana e a libido e curiosidade de quem passara uma vida privado de prazer. Um torpor percorria-me numa velocidade tão intensa que em segundos, todo o meu corpo respondia freneticamente aos seus graciosos estímulos. Ele fazia todo um meticuloso jogo de sedução. Com uma satisfação quase sádica rasgava lentamente minhas roupas e mordia gentilmente meu pescoço, meus ombros, meu ventre. Produzia pequenos espasmos em meu corpo e isso o fazia sorrir. E a excitação perdurava por horas a fio. Mas nesse dia ele não fez nada. Chegou, sentou-se e lá estava, por duas horas, me analisando minuciosamente como um arqueólogo que observa uma relíquia rara recém descoberta. Olhei-o como um cão ao dono. Queria que ele se movesse, me abraçasse me amasse. 
     Finalmente convencido de que ele não se moveria, levantei-me e me dirigi para a grande banheira no centro do cômodo, como eram antigamente as belas banheiras gregas. Despi-me. Não tinha vergonha que ele observasse cada movimento meu. Até me agradava um pouco essa sensação de ser esquadrinhado. A água estava deliciosamente quente, exalava um perfume de lírios brancos e rosas, abandonei-me nela. Por um instante, eu esqueci que ele estava lá. Pensava apenas no movimento calmo da água e na luz bruxuleante das velas que circundavam a banheira. Eu pensava que ele ficaria me contemplando até a hora de partir, mas me enganei.                                         Quando olhei para a cadeira à procura daquele rosto angelical, ele não estava lá. Subitamente apareceu junto a mim, despido, mergulhado na água doce e rosada. Ele se movera com uma velocidade e suavidade sublimes. Eu estava encantado. Acariciou-me lentamente, os dedos frios apesar da água quente, a pele suave e lisa, ele mais parecia uma estátua viva, ou uma das obras de Rembrandt que fugira dos quadros para vir à mim. Tinha feições delicadas, um rosto como o dos mais belos anjos já pintados, um rosto imberbe, infantil, delicado, era tão belo como uma menina. Cabelos ruivos, ondulados e lustrosos como os da majestosa Vênus de Botticelli. Olhos azuis esverdeados como o mais translúcido mar dos trópicos. Era contagiante aquele olhar, aquele desejo. 
     Naquele momento nada mais importava, apenas nós dois. Beijou-me. O coração pulsando, mas forte, o odor afrodisíaco das velas aromáticas, as cores pulsantes das pinturas que recobriam as paredes, o ruído da água que se revolvia a cada movimento que nós fazíamos tudo aquilo me envolvia, me cativava, me deixava cada vez mais embriagado. Eu não queria que aquilo parasse aquele turbilhão de excitantes sensações que atiçavam cada um de meus sentidos. 
     Entreguei-me a ele.Não me recordo mais sobre aquela noite,depois disso, só lembro de ter despertado horas mais tarde em nossa cama. Ele tinha partido. Uma melancolia invadiu-me profundamente, eu sabia que ele voltaria, ele sempre voltava. Mas mesmo assim eu sempre ficava completamente arrasado ao vê-lo partir. Era como se me privassem de minha maior alegria. Eu me sentia vazio irremediavelmente nostálgico. Sentia como se nem mesmo a visão das mais belas rosas ao desabrochar fosse capaz de sanar a nostalgia que me consumia a alma. Tentei me controlar. Chorei.
     Precisava fazer algo que desviasse a minha atenção dele, qualquer coisa. Resolvi então caminhar pelo bosque que ficava a menos de dois quarteirões dali, afinal, demoraria um dia inteiro para que voltasse a ver meu querido Caleb. Entrei no bosque sem direção, caminhei por alguns minutos até alcançar uma clareira qualquer, onde me sentei junto com meu violino e meus pensamentos. Deixei que os sons da natureza me envolvessem. Comecei a tocar. Uma melodia graciosa e improvisada ia se formando gradualmente, acompanhando os ruidos do bosque formando uma delicada sinfonia espontânea. E na medida em que o vento se tornava mais forte, mais rápidos eram os movimentos do arco do violino. Estava escurecendo. A melodia tornou-se melancólica e foi se esvaindo até cessar. Era hora de voltar.
     Cheguei ansioso à casa. Estava silenciosa. Nem sinal de Caleb. -Estou aqui Zach, não se preocupe, não tenho a intenção de deixá-lo. Ele me abraçou carinhosamente e encheu-me de beijos. Era como se cada beijo seu injetasse em mim um feixe de felicidade, pois pouco a pouco, todos os sentimentos tristes abandonaram minha mente. Agora só havia ele. Calebentediantes e pomposas festas que a corte costumava oferecer. Ele estava lá, num canto, apreciando um dos muitos quadros da galeria do nosso notório anfitrião. Desde aquele momento não consegui tirar meus olhos dele. Conversamos nos apaixonamos. Mas eu estava envelhecendo. Era quase inevitável, você sabe, ele podia facilmente transpor esse pequeno obstáculo. Mas tanto ele como eu não queríamos isso. Eu era tão jovem, mas, em breve, não seria mais tão jovem, e eu sabia, bem como ele, que isso mudaria as coisas entre nós. Então veio o dia. Quando cheguei em casa de uma reunião com meu sócio, Benjamin, ele estava sentado na poltrona à frente da escrivaninha. Parecia abatido, deprimido. 
     -Zach, você sabe o quanto quero ficar com você, para sempre. - disse abaixando a cabeça.
     -Caleb. - murmurei. - eu estou pronto, se é o que quer saber.
     Ele veio até mim, olhou-me como se olhasse pela última vez para aquele jovem de longos cabelos loiros, levemente despenteados e seus olhos cor de cobre. Olhava-me como se eu nunca mais fosse ser daquele jeito de novo, ou pelo contrário, olhava-me como que pesaroso por imortalizar aquela expressão infantil. Tirou minha camisa, desamarrou meus cabelos, abraçou-me, beijou-me e me amou uma última vez antes de me fazer igual a ele. Foi como um último beijo, sua boca em minha garganta enquanto acariciava meus cabelos. Foi rápido. Logo eu havia perdido os sentidos.
     -Beba.- disse, parecia mais um pedido do que uma ordem. Abri minha boca e senti uma substância como nenhuma outra que eu jamais provara entrar em meu corpo fazendo com que cada célula de meu corpo vibrasse insistentemente. Depois, uma dor como nenhuma outra sentida me invadiu. Estava morrendo, morrendo para nascer de novo. 
      Durou pouco menos que cinco minutos, não sei dizer ao certo. Estava faminto. Estava mais pálido, pálido como ele. Acabou, éramos iguais, eu poderia passar toda eternidade ao seu lado, mas primeiro, eu precisava conhecer o mundo com a minha nova forma, ver tudo o que eu ansiava ver, descobrir o mundo de novo, com novos olhos. Depois voltaria para ele, meu amante eterno. Parti com o coração receoso. Fui a lugares com os quais jamais sonhara, conheci pessoas, matei pessoas. Vi as mais belas obras de arte, os mais belos crepúsculos até que, enfim retornei para ele, meu anjo de Rembrandt, Caleb. Essa é minha história e de Caleb, meu amor, meu confidente, meu mestre.

O jovem e a linda musa

*~O jovem e a linda musa ~*

Como era belo. Seus olhos eram como portais para uma alma misteriosa, única, profunda. Seus cabelos eram diferentes, mas de um tom comum, delicadas ondas castanho claras desciam levemente até a altura dos seus ombros, sempre sutilmente depenteados, dando-lhe um ar um pouco inusitado, excepcional, mas mesmo assim, discreto. Sorria levemente como se tentasse suprimir a alegria com uma expressão misteriosa. Tentava parecer sério mas sempre transparecia um lado juvenil e angelical em seus gestos. Não importava como se vestisse, sempre dava uma impressão de informalidade, talvez causada pela linguagem culta, porém leve; por suas ideias e histórias aventureiras ou por seu caráter um pouco indômito, singular. Um rapaz jovem, porém distinto. Possuia um modo de pensar diferente dos outros, era mais reservado.
Sentou-se em frente a sua escrivaninha e ficou oservando pela janela uma jovem que estava sentada num banco do parque, que ficava logo em frente à casa. Sorriu. Era tão bela. Uma beleza simples, seus cabelos que mais pareciam serem feitos de ouro velho estavam presos por uma fivela bordô,sua pele mais parecia canela, suave, corada estava protegida por uma charmosa sombrinha de renda trabalhada. Usava roupas simples mas de uma certa peculiaridade, adornadas com belas fitas de cetim azul-celeste. Lembrava-o de uma bela camponesa de uma daquelas histórias como a de cinderela ou bela, que, no final,casavam-se com um garboso príncipe. Ela o inspirou. Parecia tão serena ali parada, entretida lendo um pequeno livro de bolso e observando pequenos pássaros pousados numa árvore não muito distante. Ele pensou em ir até lá para poder analisá-la com cautela, minunciosa e lentamente, mas faltava-lhe a coragem para tanto. Fitou então o céu que enchia-se com o espetáculo luminoso que vulgarmente denominamos de pôr-do-sol. Sorriu um sorriso enfadonho pelo canto de sua boca.

A jovem do testamento: o primeiro contato com a morte

*~A jovem do testamento~*


Ele estava intrigado. Apenas 17 anos e já queria fazer um testamento. Era uma bela jovem que lhe chamou a atenção.

- Bom, por que quer fazer um testamento agora, minha cara?

- Porque finalmente descobri o que significa desistir da vida. Porque viver para mim não é como estar em uma sala de vidro à prova de som, gritando alertas e avisos a plenos pulmões, enquanto as pessoas passam calmamente pela rua sem sequer olhar..Nosso planeta está morrendo; o ódio nos rodeia. E no momento que mais precisamos nos unir, estamos mais divididos do que nunca. Já estou morta há muito tempo, eu sou só um boneco, não vivo.

- Não seja tão dramática. Não pode ser tão ruim.

- Mas é. Aos poucos fui abrindo mão da minha vontade e da minha vida. Não tenho mais escolhas, apenas sigo as escolhidas para mim. Não tenho o poder para pausar as atrocidades ao meu redor e o horror diário que é viver nesta realidade. Vivo o medo a cada instante e não tenho mais forças para lutar

- Pois bem. - disse em um tom meio debochado. Achava ser pura brincadeira; um capricho dessa juventude.

- O que quer que eu escreva no seu testamento, minha jovem?

- Há muito vivo uma vida que não é minha. Não tenho sonhos, vontades, ambições, necessidades, nada. Por isso, decidi usar o pouco de livre arbítrio que me resta para escrever esse testamento; estou desistindo da minha vida. Não deixo nada para ninguém pois, embora tenha bens que me pertençam, quero que fiquem onde estão, intocados, imaculados. Peço também que meus desenhos, assim como meus restos mortais, sejam queimados, para que espalhados e, com o tempo, esquecidos. Quero que minhas cinzas sejam atiradas ao vento que percorre os 4 cantos do mundo, para que possa conhecer os lugares que um dia sonhei em conhecer. Quero deixar uma coisa nessa vida: Um aviso de que lutamos por um presente sem pensar em construir um futuro. Nossa arrogância nos afasta cada vez mais da direção que deveríamos seguir. Se nada for preservado, nada sobrará além de recordações amargas. Ainda há tempo, embora seja pouco, de restaurar o que tem sido destruído. Seremos capazes de enxergar antes que não haja nada mais para se ver ou morreremos cegos e amargurados?

- Tem certeza disso?- disse ele meio alerta. Talvez não fosse uma brincadeira. Mas a preocupação durou somente um momento até que seu pensamento se voltasse para o horário. Tinha um compromisso e precisava se apressar.

- Absoluta. É tudo.

  Ele suspirou, vencido.

- Que seja então. Aqui está.- falou enquanto entregava à jovem o pedaço de papel, torcendo para que não fosse sério.

- Obrigada.

E saiu com a mesma calma com que chegou. Estava séria. Deixou o prédio rumo ao parque, onde sentou-se embaixo de uma árvore qualquer para observar um pouco o movimento das pessoas que por ali passavam. Tirou da bolsa um pequeno frasco cheio de cápsulas. Pegou uma. Bastava. Tomou-a sem remorso. Segundos mais tarde já havia partido. O testamento em mãos e uma última lágrima de desespero que percorria sua face.

Uma criança avistou-a deitada ao pé da árvore. Aproximou-se lentamente; achava que ela estava dormindo e foi arrebatada por um sonho ruim. Alisou seus cabelos delicadamente e sorriu. Era criada em meio a demasiada violência para saber diferenciar a morte tranquila de um sono profundo. Sacudiu-a.

- Moça, acorda. Não dorme aqui que é perigoso- Teimou em sacudi-la, mas não houve reação.

Uma pequena lágrima percorreu-lhe o rosto. Enfim percebeu. Abraçou-a sem medo do corpo inerte. Lamentou-se pela jovem desconhecida. E ficou lá por mais alguns momentos, admirando a beleza da jovem e entristecendo-se pela sua morte. Anoiteceu. Tinha que despedir-se da moça. Deixou-a. Ao retornar para o abrigo, contou inocentemente a história para o supervisor, que logo foi até a delegacia e informou à policia do ocorrido. A criança que, também vivia a dor e os horrores do mundo diariamente, sentou-se pensativa. Nunca mais seria a mesma.

Os amantes da casa verde: uma cena

*~Os amantes da casa verde~*


   E foi assim, tão natural quanto a calma em seus olhos, que aquele sorriso lhe escapou pelo canto da boca. Ele parecia tranquilo ali sentado na sua frente, como se pudesse passar todo o tempo do mundo ali, parado, encarando-a. 
     - Não tem nada a dizer? - Perguntou-lhe impaciente olhando-o fixamente nos olhos.  
     - Quer me perguntar algo minha querida?- Respondeu-lhe tranquila e serenamente.  
     - Não, nada de especial-  disse tornando seu olhar para a janela aberta do outro lado da pequena sala.  
     Levantou-se calmamente e foi até a janela. Os olhos dele seguiam-na por todo o trajeto através do cômodo. Era como se o andar dela o tivesse enfeitiçado. E ficou lá, parada, pensando. Olhava-o vez ou outra como se para certificar-se de que ele ainda estava lá.  
     - Que bela vista. A cidade à noite é ainda mais bela do que de dia, ainda mais quando iluminada pela luz da lua cheia como agora, não acha?  
     - É, mas não mais bela do que seu rosto iluminado por essa suave luz azulada que faz com que seus lindos cabelos castanhos mais pareçam pretos e faz com que seus olhos pareçam brilhar mais intensamente do que o natural. Esse vento que passa suavemente por seus cabelos fazendo com que se despenteiem levemente e seu sorriso ao levar a mão ao rosto para afastar a franja que lhe cai nos olhos. Sinceramente, não há nesse mundo imagem mais bela que a sua minha jovem. Você é simplesmente perfeita.  
     - Não diga bobagens,ninguém é perfeito.  
     - Então você deve ser ninguém, pois seu sorriso é mais belo que a visão das flores a desabrochar na primavera. Seu perfume é mais doce e delicado que o da mais formosa e cheirosa das flores. Seus olhos são como dois abismos profundos onde sentimo-nos cair ao encara-los diretamente. Seu corpo é mais lindo do que a mais perfeita obra de arte. Você simplesmente não pode ser real. Tamanha é sua beleza que não se é capaz de se imaginar nem mesmo nos mais amaveis sonhos. E você a despreza.  
     - Não seja tolo Sekhemet. Você fala como se eu fosse uma deusa quando sou apenas uma mulher, comum, mortal. Não precisa dizer tantas palavras belas, sabe que eu já te amo. Não tem que me conquistar, poupe seus elogios. 
    - Minha amada Sibyl, esses elogios não são nada comparados a sua beleza; ao que sinto por você. Você merece muito mais do que elogios, mas eles são tudo que posso lhe dar. 

     Aproximou-se dela, abraçou-a por trás e sussurou em seu ouvido. 
     - Você é a minha inspiração. É o motivo pelo qual me levanto todos os dias. É o ser mais perfeito que Deus teve a capacidade de criar. É um anjo fugido dos céus que veio para fazer de mim o homem mais feliz da terra. 
      Ele beijou-a. Podia sentir o perfume dos cabelos dela envolvendo-o suavemente como uma cobra ao envolver a presa. Amparava os lábios trêmulos e doces da bela jovem com um beijo seguro, romântico. Como quem diz "estou aqui". Segurava-a delicadamente porém seguramente como se não quisesse que ela escapasse. E ficaram lá, abraçados, em frente a janela por longos minutos. Ele envolveu-a em seus braços e ficaram juntos olhando a lua cheia no céu ofuscando o brilho das estrelas naquela noite sem nuvens. Depois, afastaram-se da janela. Ele sentou-se no sofá, ela escorou-se nele e adormeceu. 
      - És ainda mais bela quando adormecida, meu anjo- disse sussurando em seu ouvido.

O pierrot e a princesa: um conto etéreo

*~O pierrot e a princesa~*

O jovem pierrot estava caminhando alegremente pelo pátio do palácio quando avistou, ao longe, uma jovem sentada à beira do pequeno lago. Ao aproximar-se logo reconheceu a pequena princesa que estava aos prantos observando tristemente suas lagrimas tocarem a superfície serena do lago.
- Por que choras pequena lady?
- Porque perdi meus sonhos, tudo se foi.
- Te sentes desiludida? é isso?
- Sim, e muito.- Solta então um suspiro
- Ora essa. Se estas desiludida é sinal de que estavas iludida e isso não é bom, não acha?
- Você acha mesmo? Responda-me com sinceridade, meu caro pierrot. Preferes a dura verdade à doce ilusão? Prefere assim expor abertamente as mágoas de sua alma; as feridas de seu coração?
- O que esperas que eu responda? O que queres de mim? Somente sei que, às vezes, as pessoas precisam se desfazer de sonhos para tornar outros reais. Por mais que doa, precisam abrir seus corações para novos sonhos maiores. Nem por isso melhores, mas sim, na maioria das vezes, necessários.
A princesa então virou-se para o pensativo pierrot e disse:
- Há sonhos que prefiro manter, que fazem parte de mim. Prefiro mantê-los à substitui-los por qualquer outro
- Há sonhos que devem ser mantidos, minha cara lady. Mas, se ao acaso perdê-los, não te feches para novos sonhos.
- Por que importa-se tanto com eles, meu pierrot?
- Não é com eles que me importo. E sim, contigo.
- Mas é tão difícil me desfazer de meus belos sonhos...preciso deles.
- Tu somente pensas que precisa ,mas não é verdade, eles te pertencem e não o contrário, tu podes viver sem eles, não és dependente deles.
- Queria poder guarda-los ao invés de descarta-los, assim eu poderia vê-los sempre que quisesse.
- E assim estarias sempre presa a eles. Liberta-te bela jovem,! Controla teus pensamento, antes que te controlem.- Segurou o Delicado rosto da princesa entre as mãos com destreza e direcionou-o para o horizonte.
- Obrigada por me ajudar a ver as coisas de outra maneira, caro pierrot. Tentarei ser o mais forte possível para que possa me livrar dos velhos sonhos.
- Não é uma tarefa fácil minha cara, mas tenho certeza que tu és capaz de realiza-la.